terça-feira, 25 de setembro de 2012



SEQUESTRO EMBAIXADOR ALEMÃO - EHRENFRIED VON HOLLEBEN. 1970

Desde o final de 1969, coerente com a sua intenção de prosseguir com as atividades de propaganda armada, a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), vinha realizando levantamentos para o sequestro de alguns diplomatas, dentre os quais os embaixadores dos Estados Unidos, do Japão, da Suécia e da Alemanha, este último em parceria com a Frente de Libertação Nacional (FLN )
A prisão em 18 de abril de 1970, de Maria Brito, membro do Comando Nacional, proporcionaram aos órgãos de segurança a descoberta de um minucioso planejamento para o sequestro do embaixador alemão.
Nele, apareciam as primeiras letras dos codinomes dos principais participantes da ação,

No final de maio de 1970, as prisões estavam abarrotadas de militantes da VPR. O próprio Carlos Lamarca poderia “cair” a qualquer momento.
Era urgente desencadear uma operação de sequestro que libertasse os principais “quadros estratégicos” e que ao mesmo tempo alcançasse repercussão.


A nova “ Unidade de Combate Juarez Guimarães de Brito ” (UC/JGB), criada em homenagem ao líder recentemente morto em combate, retomou os planejamentos para o sequestro.
Resolveu-se então sequestrar o embaixador alemão; Ehrenfried Anton Theodor Ludwig Von Holleben.
O planejamento inicial mostrara que a ação poderia ser executada com grandes chances de sucesso.
Apesar dos planos já serem do conhecimento da polícia, a segurança do embaixador era pequena, constituída por um carro com dois agentes. Além disso, raciocinaram que os órgãos de segurança não estariam acreditando que fosse realizada a ação, com o planejamento já conhecido. A VPR pensou corretamente.
Atualizaram o planejamento. Roubaram quatro carros; dois Volks (um grená e um vermelho), uma Willys Rural e um Opala azul, este de um médico, que foi assaltado quando chegava em sua residência.

Desde o final de maio, já possuíam uma casa ( aparelho ), de dois quartos para ``guardar´´ o embaixador, na Rua Juvêncio de Menezes, nº 535.
Em São Paulo, nos primeiros dias de junho, uma reunião entre Carlos Lamarca, Joaquim Ferreira da ALN, e Devanir Carvalho MRT, estabeleceram a lista dos 40 prisioneiros que seriam trocados pelo embaixador.
Como reforço para o sucesso da operação, receberam 30 mil cruzeiros, uma metralhadora INA, uma pistola e assessoria de dois militantes da ALN,especializados em sequestros.

No dia 11 de junho de 1970, ás 17:40h de uma quinta-feira,o rádio da Mercedes diplomatica estava ligado numa estação que transmitia durante o intervalo do jogo Inglaterra vs Tchecoslováquia, pelas oitavas de final da Copa do Mundo no México, o jingle: " Noventa milhões em ação / Pra frente Brasil / Saaaalve a seleção...".
Holleben saiu da embaixada, localizada na Rua Presidente Carlos de Campos 417, em Laranjeiras, em direção à sua residência. Sentado no banco de trás de sua Mercedes preta, acompanhava a transmissão do jogo.
O embaixador tinha como motorista, o funcionário Marinho Huttl e o Agente da Polícia Federal ( APF ), Irlando de Souza Régis. Seguindo a Mercedes, como escolta uma Variant gelo, com 2 agentes da APF.
Ao aproximar-se o carro diplomático, Jesus Soto, deu um sinal a José Gradel, que avançou a Willys Rural abalroando a Mercedes. Um “casal” de militantes que fingiam namorar na Escadinha do Fialho,dispararam suas metralhadoras contra a Variant, ferindo Luiz Antônio no abdome e Banharo, na cabeça.
Ao mesmo tempo, Eduardo Leite, à queima-roupa, disparou três tiros de revólver 38 em Irlando de Souza Régis, matando-o com um tiro na cabeça (o agente da APF estava a um ano de sua aposentadoria ).
Outros militantes com uma rajada de submetralhadora atiravam também no carro da escolta, e os seguranças gravemente feridos se renderam gritando: "Chega! Chega!". Foi Inutil. Um militante disparou o tiro de misericordia...
Herbert Carvalho,empunhando uma pistola 45, arrancou o diplomata da Mercedes e o fez embarcar no Opala, dirigido por José Rezende. Deixando no local a Rural Willys do abalroamento.

Três carros fugiram em alta velocidade, em fila indiana. Na frente, o Volks grená, dirigido por Roberto Silva e transportando Sônia Lafoz e Alex Alverga. No meio, o Opala, com José Roberto, Eduardo Herbert e o embaixador, e atrás encerrando a fila, o Volks vermelho dirigido por Gradel e levando José Milton e Jesus Soto.

Executado por nove terroristas, o seqüestro durou menos de quatro minutos e deixou dois mortos e em ferido grave. Alguns panfletos foram jogados no local do sequestro, com a assinatura do VPR e ALN, com o titulo “Esclarecimento e Manifesto Ao Povo Brasileiro”.

Subindo pela Cândido Mendes, Herbert colocou algodão embebido em éter no nariz do embaixador, para anestesialo . Na altura do nº 200 da Rua Professor Olinto de Oliveira, foi realizado o transbordo para uma Kombi verde-claro, onde estavam aguardando Gerson Oliveira, Maurício Silveira e Alfredo Sirkis ( para servir como intérprete ).
O embaixador foi colocado dentro de uma pequena caixa de madeira, e a Kombi dirigida por Maurício seguiu para o cativeiro. Cerca das 20:00hs, depois de dar uma raspada num ônibus durante a fuga, chegaram ao ``aparelho´´. Os dois Volks e o Opala foram logo depois abandonados por seus ocupantes.
O caixote foi desembarcado e Holleben acomodado num dos quartos.
Uma ``gentil´´ militante recebeu Von Holleben com chá e salgadinhos e o calmante Valium.

Nessa mesma madrugada datilografaram o “ Comunicado nº 1”, no qual faziam diversas exigências às autoridades, dentre as quais a libertação de 40 presos e a divulgação do manifesto pela Rádio Nacional.

Ao mesmo tempo, Maurício deixava a Kombi num determinado local, para ser apanhada posteriormente, a fim de levar de volta o embaixador.
Durante os cinco dias que durou o sequestro, diversas mensagens foram trocadas entre os governos brasileiro e alemão.
Seis comunicados do “Comando Juarez Guimarães de Brito” foram enviados às autoridades. Diversos “comunicados internos” foram trocados entre o comando da operação e a VPR em São Paulo, através da Rádio Nacional. Em código, eles transmitiam dados e instruções.
Nesses cinco dias de cativeiro, foram tranquilas as relações entre Holleben e os cinco terroristas, sempre escondidos por capuzes. A comunicação era feita em inglês, dizendo, entre outras coisas, que estavam tentando libertar seus companheiros torturados nas prisões.
Como relatado pelo embaixador; no domingo, os comunistas ouviram o jogo em que o Brasil venceu o Peru por 4x2. Muitos deles torceram contra a equipe de Pelé, que representava, segundo eles, uma ditadura que tinha que ser derrotada.

Na segunda-feira, dia 15, os 40 banidos chegavam na Argélia, em avião da fretado da VARIG, e pago pelo governo federal.
Dos 40 banidos, 20 eram militantes da VPR: Os outros 20 pertenciam a outras organizações comunistas.
Só faltava agora soltar o embaixador. O problema é que, ao buscar a Kombi, Maurício não mais a encontrara. Deixada num local de estacionamento proibido, ela fora rebocada pelo Detran.

Durante todo o dia seguinte, os militantes buscaram uma saída para o problema, chegando inclusive, a aventar a hipótese de levá-lo de ônibus.
Às 22:00h, chegou a solução na forma de um carro trazido por José Rezende.
Na primeira leva, Sirkis e Manoel foram deixados no Méier. Na segunda, sairam Gerson, Tereza e o embaixador, largado às 23:00h na Tijuca.
Reconhecido por um popular, foi levado até à embaixada, portando no bolso do casaco um documento relatando torturas, que se dispusera a divulgar na Europa.
O sequestro foi realizado por duas organizações a VPR e ALN, e teve a participação de 19 militantes, dentre os que decidiram, os que planejaram, os que executaram a ação.
O inusitado, foi o comentário do embaixador com os militantes, quando da sua liberdade no Méier ; `` Pensei que vocês fossem mais organizados !! ``.


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